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O Idioma como Pátria: Uma Ode à Língua Portuguesa
No alvorecer de cinco de novembro, o calendário cívico brasileiro descerra uma data de significado profundo: o Dia Nacional da Língua Portuguesa.
Longe de ser uma mera efeméride, este dia consagra a língua não apenas como um veículo de comunicação, mas como o esteio da identidade nacional e o depositário da memória e da cultura que nos conformam enquanto povo. É o momento de reverenciar o idioma que, nas palavras imortais do bardo lusitano Fernando Pessoa, se erige como a verdadeira pátria para milhões de falantes.
A Argamassa da Identidade
A Língua Portuguesa, forjada no Lácio e lapidada ao longo dos séculos, desembarcou nas praias do Novo Mundo para se metamorfosear em algo intrinsecamente brasileiro. Nela, ecoam os murmúrios do tupi, o compasso dos tambores africanos e a ressonância das múltiplas migrações europeias, tecendo um mosaico vocabular de riqueza ímpar. O português que hoje se fala no Brasil é um organismo vivo, pulsante, que absorve e recria, atestando a inesgotável capacidade de um povo de se expressar em sua singularidade.
A celebração desta data, instituída pela Lei nº 11.310 de 2006, é um tributo à sua magnanimidade e plasticidade. Rememora-se, em especial, a figura proeminente de Ruy Barbosa, nascido neste mesmo dia em 1849, cujo brilhantismo intelectual e eloquência notável o tornaram um dos maiores defensores do domínio da língua como ferramenta de cidadania e ascensão social.
O Legado e o Desafio da Preservação
O idioma é o arcabouço da literatura, o receptáculo das cosmovisões de Machado, Guimarães Rosa, Clarice Lispector e tantos outros arquitetos da palavra. É ele quem nos permite decifrar a alma complexa e multifacetada do país. Contudo, a veneração à Língua Portuguesa não se restringe à exaltação de sua forma erudita. Ela deve abraçar a diversidade de seus sotaques e a legitimidade de suas variantes regionais e sociais.
O desafio perene reside em promover uma alfabetização linguística plena, que ultrapasse a mera decodificação e se ancore na compreensão profunda e na capacidade de expressão clara e eficaz. É mister que cada cidadão se aproprie do idioma como um instrumento de poder, capaz de desvelar o mundo e de moldar o discurso público.
Neste dia, o convite se estende a uma imersão reflexiva: que se aprecie a cadência melódica das palavras, que se explore a etimologia que lhes confere lastro histórico e que se reafirme o compromisso com a clareza e a precisão no trato da linguagem.📚🪶
Afinal, cuidar da língua é zelar pela inteligibilidade do nosso pensamento e pela solidez de nossa herança cultural.
A Língua Portuguesa é mais do que um conjunto de regras gramaticais; é a seiva vital que irriga as artes, a ciência, a justiça e o cotidiano. Que sua celebração seja um estímulo constante para a valorização deste patrimônio inestimável, garantindo que o “último flor do Lácio” continue a vicejar com toda a sua opulência e vigor.
Wanda Rop
